segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Oração de Jó
Forçadamente jogo meu corpo nas palavras
Minha alma na lama
No pior dos esgotos ela permanece deitada
Eu quero me cortar como os antigos povos pagãos que queriam te adorar e não conseguiam
Eu quero me lançar ao pó como Jó
Será que eu sou Jó?
Por teu amor, afasta de mim esses amigos que se dizem crentes.
Mas Jó uma hora dessas?
Tiraram minha concentração.
Podem tirar minha alegria dessa forma?
Arranhar meu rosto no solo, manchando de sangue o chão,
Com razão, com sentido.
Prefiro a autoflagelação, à incerteza dessa dor.
Se o físico e o mental se mesclam em mim, como doença e como sentir
Então ainda prefiro a revolta do meu DNA, explodindo no âmago solitário de mim.
Batendo cabeça como viciado, ou como um louco que fabrica o próprio hospício
Por não agüentar esperar o dia que não chega.
Ou que nasce pior.
Nenhum diagnostico que evite socos no ar, no próprio rosto ou no próximo.
Perdendo teu dom por me reprimir
Uma desculpa de um pecador
Que não consegue viver o que não consegue pregar.
Só prazeres carnais me aliviam a carne.
Só o sono e o circo me aliviam o espírito.
Mas nem o pão me da prazer.
E nem o circo e nem o prazer carnal me aliviam.
Nem a fé que eu devo ter esquecido atrás de alguma porta, pode me levantar.
Como se aprende a ter fé?
Ao meu Deus poético o que devo fazer? Deixá-lo e me enquadrar em qualquer esquema padronizado?
E a minha comédia da vida privada, devo transformá-la num drama de Nelson Rodrigues?
Creio que não, posso sorrir e chorar, numa carreira mal sucedida de palhaço, rindo da idiotice que me cerca, rindo da idiotice da queda.
Faltam-me horas para o ciclo de remédios que tenho vontade de tomar além daqueles que tenho vontade de deixar.
Admira-me ser tão talentoso, ou cego, mas prefiro crer no meu Deus peripatético, do que na carranca das pessoas tristes e banais e mortas.
Admira-me ser tão verdadeiro e natural, próximo a falsidade dos que se vestem de falsa ética.
Mesmo assim tendo a sofrer e paralisar sem vontade, querendo amar sem amor, ou cheio de amor não poder expeli-lo. Meu rio lacrimal secou enquanto jorro sangue pela carne que perece, dessa forma, Senhor, salva-me por inteiro, ou pelo menos alimenta meu espírito e reaviva minha alma, pois dessa forma, força-me um tricotomia indesejada, então salva-me por inteiro. Amém.
Diego Marcell 30/09/10
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