Muito é especulado sobre o que faz alguém sair da caverna, os cristãos pensaram na fé, os estudiosos pensavam no conhecimento, mas nada disso é verdade porque eles continuam lá. Aqueles que saíram, muitos ainda perdidos na liberdade, mas o tempo lhes fará voltar para falar aos outros e logo depois os fará sair para ver o mundo como ele é, sem saber porque os outros ficaram (e tentaram lhe matar). A grande busca nascerá na mente destes, vem o ser.
Talvez possam conjecturar isto de várias coisas, que é obra de Deus talvez, mas podemos tentar ir além. O que faz alguém sair da caverna é o instinto, mas por que alguns têm este instinto, alguns raros apenas? Esta é a grande questão metafísica e talvez, como Heidegger, devemos ir além dela.
Alguns se desencantam com os conceitos e ao invés de se libertarem, resolvem buscar novos entretenimentos dentro da caverna, esta necessidade viciante que a maioria tem de ser alguma coisa, como alguns daqueles que conheci pela vida, onde trocaram o conceito corrompido do cristianismo, para se intitularem agnósticos por terem medo da palavra ateu. Estes na porta da caverna resolvem voltar ao interior dela para tatear o chão do vazio.
Aqueles que estão fora da caverna a pouco tempo, zonzos ainda, perambulam sem entender a recente liberdade, receosos ainda de estarem errados quanto a verdade das projeções na parede.
Quanto ao grupo que volta para dentro, é o que me deixa mais triste e confuso, me dão a impressão de suicídio, um suicídio mais doloroso que o físico, pois não sei se chegarão próximos à saída novamente.
“Um homem sensato, porém, haveria de se lembrar que as perturbações que afetam os olhos são de dois tipos e têm duas causas: a passagem da luz para a sombra e aquela da sombra para a luz. Aplicando isso à visão da alma, não haveria de rir tresloucadamente quando visse uma alma perturbada e incapaz de discernir alguma coisa, mas se perguntaria se não estaria conturbada pela falta de adaptação porque proveniente de uma existência mais luminosa ou se, ao contrário, estaria ofuscada por uma luz mais resplendente porque proveniente de uma condição de ignorância maior. Então, no primeiro caso, haveria de se cumprimentar por seu embaraço, tendo em vista sua condição superior, mas se lamentaria no segundo caso. Mas quisesse rir-se desse estado, seu riso seria menos inoportuno para a alma que viesse do alto e da luz.” (Platão. A República. São Paulo: Escala, 2007, p. 247)
Numa noite me deparei com os dois casos e ainda troquei uma idéia com o Glauco.
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