quinta-feira, 3 de junho de 2010

Deus feminista





uma reflexão sobre o papel da mulher sob a ótica Divina VS os conceitos históricos e culturais na sociedade e na religião.

Por Diego Marcell – 04-01-11

De acordo com o lexicógrafo e ensaísta carioca Antonio Houaiss, Feminismo – ironicamente um substantivo de gênero masculino – é a doutrina que preconiza o aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade. De forma objetiva, este movimento critica o patriarcalismo, buscando a igualdade social, política, cultural e econômica entre os sexos. (MEDEIROS e PEREIRA. p. 66)

Baseado nesta afirmação certifica-se o feminismo teísta, ou sua razão de existir baseada e fundamentada na vontade divina.
Infelizmente os movimentos perdem o foco objetivo e na maioria das vezes vira um fundamentalismo cego em questões contrarias.

Alguns teóricos acham que a mulher apenas deixou de ser escrava do tanque para ser escrava do manequim 38, da cirurgia plástica e da obrigatoriedade de um excelente desempenho profissional e pessoal, que deixa a questão: para a mulher, terá apenas mudado o foco da submissão? (MEDEIROS e PEREIRA. p. 73)

Para exemplificar a perda de foco, mostro o caso que em 2006 a única mulher, entre os sete candidatos ao mais alto posto disputado nas eleições majoritárias, não teve o apoio dos movimentos feministas. Por ser contra a descriminalização do aborto, a senadora Heloisa Helena divide a opinião do Feminismo porque defende o planejamento familiar e a facilitação do acesso a métodos anticoncepcionais.

As mentes que preservam o foco são a esperança do movimento em sua pureza, Camille Paglia é uma delas, intelectual influente nos Estados Unidos por sua atitude libertária, é autora dos livros Personas Sexuais; Sexo, Arte e Cultura Americana; e Vamps e Vadias, referencias na literatura feminista.
Contraria ao feminismo tradicional, aquele centrado em temas como aborto e assedio sexual, a professora de Letras da Universidade das Artes de Philadelphia acredita que as feministas foram marginalizadas nos Estados Unidos por causa dos excessos de décadas passadas, culpa das próprias líderes que negligenciaram assuntos de maior relevância (Diana Medeiros e Rosilene Pereira).

Muitos meios eclesiásticos insistem em manter uma postura retratada na Bíblia por alguns escritores, mas que a pouca exegese não os revela que não passam de contextos culturais de suas épocas e não a vontade de Deus. Simplesmente desprezam o maior expoente da liberdade feminina que foi Jesus Cristo o revolucionário feminista de sua época, rompendo barreiras religiosas, políticas e culturais em seu contato e seu ensino às mulheres. Jesus restituiu o que foi perdido no decorrer da historia, onde Deus criou homem e mulher um para o outro e não somente a mulher para o homem com alguma inferioridade por mínima que seja em qualquer quesito, seja ele sapiencial, espiritual, emocional ou outro qualquer, mas suas diferenças são completudes e não inferioridades. Inclusive o pastor emergente Mark Driscoll muito conhecido no Brasil por seus vídeos no Youtube, expressou seu pensamento retrógrado e pouco profundo em um vídeo onde ele falava dos diferentes modelos de igrejas emergentes americanas, e que a dele em especial não aceitava mulheres porque Paulo em sua instrução a igreja não aceitava. Porém, como diz o meu amigo Prof. Israel Boniek, o que tem a cara de Deus e o que não tem nas expressões literais assumidas por certos meios eclesiásticos? E muito do que se atribui a Deus é puro sentimentalismo humano carregado de cultura de uma sociedade temporal; avaliar a situação da mulher, da criança, dos animais, das plantas, do mundo em geral apoiados em noções políticas, sociais e tradicionais de um mundo ultrapassado é regressar a aspectos desatualizados na vida pratica e contextual de hoje, tanto no ambiente eclesial quanto na sociedade secular.

A feminilidade hoje é experimental e precária, algo mais definido pelo que não é do que por aquilo que é. Para algumas mulheres isso não é um problema. Elas superam as complexidades das projeções e dos equívocos da sociedade e agora pairam acima das nuvens. Para a maioria, entretanto, as resistências que encontraram quando tentavam alcançar as alturas foram tão fortes que suas asas agora pendem inertes, e elas não se aventuram mais.
A feminilidade é uma dor coletiva de profundidade indescritível, e quando tentamos expressá-la, estamos sujeitas a ouvir, “Lá vêm vocês outra vez – reclamando!”
Enquanto isso acontecer, nada menos que toda a humanidade estará impedida de prosseguir em sua jornada ao destino cósmico. Este destino está longe, muito longe, encontra-se em um lugar tão profundo dentro de nós que mal vislumbramos suas paredes externas. (WILLIAMSON. 1995, p. 14)

Por isso Deus vem revelar-se não como homem, mas como ser humano em corpo masculino, porém redefinindo o padrão igualitário de homem e mulher como sendo ambos a representação a que o mundo fora criado em torno, e tendo em Jesus o exemplo máximo da justiça social.

...a nova criação de todas as coisas já teve início com a ressurreição de Cristo dentre os mortos. Por isso nós não somos remidos do mundo, mas sim com o mundo. A experiência cristã do Espírito não nos separa do mundo. Quanto maiores as nossas esperanças para o mundo, tanto mais profunda passa a ser nossa solidariedade com seus sofrimentos e seus gemidos. (MOLTMANN in ZABATIERO. 2005, p. 69-70)

“Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou” (Gn 1.27 BJ). Ele criou ambos a sua imagem e semelhança, não no sentido físico ou mental, mas nos criou distintos dos animais pois todos no reino dos seres vivos são, mas somente o homem/mulher sabe que é, isso nos distingui e nos faz imagem de Deus, ou seja, representantes do Divino aqui na terra.

Devemos destacar que, ao nos libertar da carne, Cristo não só nos recoloca em sintonia com toda a criação divina, como também na condição de representantes de Deus na criação. (ZABATIERO. 2005, P. 69)

Vejamos o que Strong coloca em sua Teologia Sistemática:

Vemos também esta percepção na psicologia. O bruto é consciente, mas o homem é consciente de si mesmo. O bruto não objetiva o eu. “Se alguma vez o porco pudesse dizer ´eu sou um porco´, de uma vez por todas e, daí em diante, deixaria de ser um porco”. O bruto não se distingue a partir de suas sensações. O bruto tem percepção, mas somente o homem tem a percepção, i.e., percepção acompanhada por sua referencia ao eu a que ela pertence. O bruto apenas tem objetos de percepção; o homem tem também conceitos. O bruto conhece coisas brancas, mas não a brancura. Lembra coisas, mas não pensamentos. Só o homem tem poder de abstração, i.e., o poder de derivar idéias abstratas de coisas particulares ou experiências.

A carga preconceituosa e divisória que colocou a mulher num estágio inferior ao gênero masculino impediu muitos avanços, e principalmente o avanço individual do pensamento feminino. Marienne Williamson, em seu livro O valor da mulher, coloca que quem as aprisionou foi um monstro de três cabeças, que são: o passado, a insegurança e a cultura popular, na ultima deixo um destaque maior, pois ela também exerce grande poder sobre as outras duas.

A maioria dos filmes não aprecia a mulher, a maioria dos anúncios de publicidade não aprecia a mulher, a maior parte da indústria da moda não aprecia a mulher, e a maioria das letras de rock não aprecia a mulher (uma pena, esta última – antes apreciava). Como muitas esposas agredidas, procuramos incansavelmente o amor onde é totalmente impossível encontrá-lo. Devemos conscientemente decidir não fazer mais isso.
Até decidirmos, o monstro nos manterá aprisionadas em sua masmorra. Bem no fundo de nós, entretanto, há um compartimento de escape inato. Nele o amor nunca termina nem vacila, não ganha dinheiro às nossas custas, não nos engana, nem estraçalha nossos corações. Ele é o âmago de nosso espírito. Nele vivemos como rainhas cósmicas: mães, irmãs, filhas do sol, da lua e das estrelas. Nesse reino, encontramos Deus, a deusa, e nossos amáveis egos. (WILLIAMSON. 1995, p. 16-17)

A mulher, ao assumir-se na sociedade e impor seus direitos através da certeza e da segurança que agem nela, permite-se à exigência de o homem vê-la como igual.

Quando a mulher compreende seu verdadeiro eu, ocorre um milagre e a vida em torno dela recomeça.
O milagre de Maria foi dar à luz virgem, e a palavra virgem significa “mulher em si mesma”. A mulher realizada tem em si mesma o poder de dar à luz coisas divinas. Hoje temos oportunidades de dar à luz um mundo curado e transformado. (WILLIAMSON. 1995, p. 20)

O ponto de vista soberano do papel da mulher jamais deve ser avaliado através da carga cultural determinando assim sua potência religiosa ou social, muito menos atribuir escritos religiosos temporais a fala absolutamente desprovida de humanidade em Deus. Sendo que a parte divina do discurso, na maioria das vezes se encontra justamente no detalhe não observado pelos fiéis; pois estes já trazem sua carga devocional defeituosa, distorcida e desprovida de certeza teológica tanto particular quanto pública na profissão de sua fé. “A natureza humana é muito mais rica, elástica e flexível do que aquela que aparece nas culturas” (COLOMBO. 1997, p.69)

A cultura é certamente um fator condicionante do modo de ser masculino ou feminino. Como fator condicionante, ela não retira a liberdade das pessoas, mas influencia o seu modo de pensar, de agir. A cultura, incluindo as criações humanas como a arte, a filosofia, a ciência, os artefatos e o modo de produção, as instituições como o Estado, a família, as leis e a moral; e também os valores, tanto os tradicionais como os emergentes, determina uma certa atmosfera e uma certa ótica, através da qual nós tendemos a responder a todas as nossas questões. E se estas não são discutidas, formam-se hábitos de pensar, esquemas mentais rígidos e incapazes de ver outros aspectos da realidade.
A nossa cultura brasileira é patriarcal, androcêntrica e androcrática. Isto quer dizer que, entre nós, foi e é o homem a dar a cor e o tom às instituições e mesmo à pesquisa cientifica. Ele é o centro e o “lugar” do poder. E nesse contexto é possível que a mulher se pense como dependente, como menor e como necessitando da tutela do homem. É aí que a mulher brasileira vai se formando, com sua estrutura mental, sua psicologia e seu modo de pensar ou estar e de agir. (COLOMBO. 1997, p. 67-68)

Este aspecto nem sempre foi assim, porém desde quando se iniciou - com exceção de certas culturas – ele tem predominado. Agora na entrada da pós-modernidade, da globalização e da ONU, não podemos mais permitir que ainda exista esta visão tão irracional dos direitos da mulher em paralelo ao homem.

A grande mudança na maneira como homens e mulheres se relacionam uns com os outros ocorreu com o começo do cultivo da terra. Quando nossos antepassados se estabeleceram ao longo das planícies do Crescente Fértil, no Oriente Médio, 8000 anos a.C. Com a invenção do arado, os povos se fixaram nas terras e a mulher perdeu sua antiga função de buscar alimentos. Perdeu sua independência econômica e seu principal papel passou a ser o de gerar filhos: pequenos agricultores, com mãos pequenas, que ajudavam na colheita dos vegetais. O papel dos homens tornou-se muito mais importante. Eram eles que guerreavam e aravam o solo, e aconteceu então uma virada – o que era uma igualdade entre os sexos transformou-se em mulheres subordinadas e homens dominadores. O casamento vira uma aliança entre povos, em que a prioridade passa a ser fundida. (FISHER. 1993, p. 30-31)

Se no inicio, em decorrência da criação e submissão à Deus no plano comum da humanidade, a vivência justa em igualdade em todos os âmbitos (sejam eles monetários, religiosos ou sexuais) fazia da ordem natural da plenitude de ambos os sexos aspectos dignos, por que aceitamos por tanto tempo esta imposição manifesta pela força e pela falsa estrutura da necessidade de eras anteriores? Se ambos, falando em nossa realidade ocidental, possuem tal liberdade, por que imputarmos julgamentos salariais ou, por exemplo, religiosos para mulheres que querem exercer o sacerdócio?

Hoje, podemos observar um retorno ao nomadismo e ao modo de vida da caça e da busca de alimentos. O que nos traz um retorno à sexualidade que nossos ancestrais cultivavam. O lar não é mais lugar de produção. Não criamos mais galinhas nem plantamos os brócolis que comeremos no jantar. Em vez disso, caçamos e buscamos comida no supermercado. Nossa tendência é migrar do trabalho para casa, para a escola, para a casa de veraneio. Somos muito mais nômades. (FISHER. 1993, p. 32)

Ao se compreender as mudanças e saber aproveitá-las, gerar-se-ão relacionamentos muito mais amplos e potencializados em todas as áreas da igualdade sexual.

Nós entendemos que as questões familiares são conjuntas, isto é, do homem e da mulher e que esta postura lhes será mais saudável para a maturidade afetiva e sexual, política e educacional do casal; isto permitirá aos casais uma nova experiência do que seja ser homem e do que seja ser mulher. E esta pode ser enriquecedora para a emancipação de ambos. É nesta perspectiva que entendemos a afirmação do apóstolo Paulo: “não há mais gregos nem judeus, nem livre nem escravo, nem homem nem mulher.” (COLOMBO. 1997, p. 70)

Nas próprias Escrituras se revelam lapsos das mulheres de destaque na sociedade, além das clássicas histórias de Ester, Rute e Débora, no livro de Provérbios há um lindo poema que se fossemos analisar versículo por versículos iríamos nos prolongar em seus meandros coloquiais, já que ele trata praticamente todos os aspectos da vida de uma mulher virtuosa, desde seu relacionamento familiar, aos seus negócios na sociedade e seus empreendimentos que a fazem uma grande empresaria e negociadora de alto nível num tempo que a nosso ver parece absurdo pela antiguidade deste poema (Pv 31.10-31). Apesar disso, a grande maioria dos textos podem ser considerados machistas, importante é compreender que o texto em si não reflete o querer Divino, mas cultural. No contexto veterotestamentário, por exemplo, as relações giravam em torno de alianças que favoreciam herdeiros masculinos, o que dava direitos que hoje nossa sociedade condena.

Porém outros textos também mostram o desaparecimento da tradicional e escrita divisão de papéis. No Cântico dos Cânticos, por exemplo, a mulher é apresentada como uma parceira em igualdade de condições, que toma a iniciativa no campo sexual. Mulheres como Ester e Judite salvam Israel do perigo, tornando-se, assim, parte da tradição das heroínas guerreiras como Débora e Jael (Jz 4; 5). O livro de Rute mostra que até mesmo uma estrangeira pode ser considerada um modelo de fidelidade ao grupo social. Dessa forma, provavelmente se combatiam as reservas existentes, na época pós-exílica, contra os matrimônios mistos. O relato de criação sacerdotal constata, em Gn 1.27, que homem e mulher foram criados à imagem de Deus. Assim, a diferença entre mulheres e homens foi, por fim, superada mentalmente com a noção monoteísta de Deus. Contudo, a prática de fé e vida não acompanhou esse processo. (RÖSEL. 2009, p. 215)

Após a vinda de Cristo e a chegada da era do Espírito, obrigamo-nos como cristãos a pensarmos a humanidade de forma igualitária, e viver de forma igualitária deixando como exemplo ao mundo.

Dizer que o Espírito é o principio de afirmação de todo homem e de toda mulher não constitui aparentemente nenhuma novidade. A questão importante é perceber a dimensão feminina que ganha destaque como elemento afirmado pelo Espírito. Não se trata de repetir a formulação genérica – todos os homens – que tantas vezes encobre e perpetua certo androcentrismo eclesiástico; antes, afirmar todo homem e toda mulher. Isso significa recuperar a igual dignidade de homens e mulheres como filhos e filhas de Deus capazes de todas as expressões e funções doadas pelo Espírito para a construção do Reino, que a um só tempo abarca a igreja e o mundo. (ROCHA. 2008, p. 53)

Ainda falando de Genesis 1.27 – Deus criou macho e fêmea, homem e mulher, à sua imagem.

Nele, fonte de tudo, útero eterno, originou-se o homem e a mulher. Dessa fonte vital eterna, jorrou a masculinidade e a feminilidade. Nesse sentido, podemos dizer que nele está contido o masculino e o feminino, pois ele, como acabamos de afirmar, é a fonte de tudo. (ROCHA. 2008, p.54).

Avaliamos assim fatos, que possuem mais a característica do Deus Uno expresso em Jesus, do que uma palavra morta na boca de homens dominadores de cargos religiosos.

Considerar os textos bíblicos como Palavra revelada por um Deus androcêntrico é conceber a complexidade e a realidade humana de forma insuficiente.
Nesse sentido, uma hermenêutica bíblica feminista se distancia de uma consideração fundamentalista da Bíblia baseada em uma imagem masculina de Deus ditando, através de um texto, sua vontade suprema. (GEABRA. p. 19)

Se alguma comunidade hoje quer ser relevante em sua fé, deve abolir seus pensamentos defeituosos da sua teologia e conectar-se com a realidade para realmente manifestar Deus no mundo em ações coerentes a Ele. Ver que o Ser Supremo é assexuado, portanto manifesta-se na mulher e no homem, e o que estes trazem de suas particularidades são obras daquele que cria, sendo possuidor de tais características.

O Deus trino foi percebido na religião judaico-cristã como um ser masculino, pois essa imagem foi gerada numa sociedade em que havia o predomínio dos homens sobre as mulheres, e estas tinham um papel inferior e ficavam à margem da sociedade. Logo, nesse contexto, ergue-se e se sobrepõe a imagem de um Deus Pai, criador, juiz, redentor; de um Deus Filho, libertador, profeta, mestre – todas figuras masculinas, fruto de uma sociedade patriarcal. A revelação se dá em um momento histórico e obedece à condição sociocultural na qual se estabelece.
O feminino, sendo considerado uma expressão do divino, pode nos comunicar uma face de Deus que muitas vezes fica oculta em razão da imposição masculinizante e masculinizadora. Portanto, o feminino surge como veiculo de revelação de Deus; ele pode nos comunicar o divino e, de fato, nos comunica. Quando percebemos nas Escrituras o Deus que se compadece, que consola, que não se esquece de seus filhos, o Deus que ensina, deparamos com o elemento feminino que comunica o divino. “Todo o elemento de ternura, aconchego, derradeiro refugio da salvação de Deus é apresentado na tradição na linguagem feminina. (Leonardo Boff)” (ROCHA. 2008, p. 54-55).

Se na representação escrita de alguns manuscritos do Gênesis aparece a mulher sendo criada ao lado do homem, este passa a ter alguém que o equivale e o completa, e ambos têm o restante da criação como destinadas ao seu uso, cuidado e manutenção. Não podendo ser diferente na Religião.

A imagem de Deus está presente na mulher do mesmo modo que no homem. Homem e mulher nivelam-se na sua capacidade de percepção de Deus, na sua necessidade do sagrado, no seu reflexo do divino, no seu sentir moral e na sua dignidade inerente. A “imago Dei” põe o homem e a mulher no mesmo “pódio” da criação, nivelados, e tendo percepções equivalentes. (CAIO FÁBIO in ROCHA. 2008, p. 56).

Permitir-se ao pensamento desprovido de pré-conceitos e costumes eleva o ser ao retorno saudável à essência. Fazer uso do pensamento consistente e livre levou e leva o ser humano a verdades e a descobertas individuais ou referentes a vida e suas amplitudes.

O objeto do filosofar é o homem e suas relações com o mundo profano ou transcendente. É claro que filósofos justificaram coisas hoje consideradas desabonatórias como a escravidão, a guerra, a inferioridade da mulher e a superioridade da aristocracia laica ou religiosa. Mas ela está presente em toda a historia. Nenhum filósofo verdadeiro e criador pretendeu voltar atrás no tempo. E isso indica o processo de libertação que se revela na superação da ignorância, na consolidação da verdadeira ciência e na implantação da justiça social. (COLOMBO. 1997, p. 75)

Assim como o Feminismo, em sua expressão vocabular é a busca pela igualdade entre homens e mulheres, esta é vontade de Deus para a sociedade justa, e obrigatoriamente a igreja necessita atribuir esta questão às suas mais profundas efusões da seriedade de sua representação terrena da justiça de Deus. Fato que foi deixado de lado em praticamente toda história da igreja, o que foi prejudicial não apenas para nosso lado feminino, mas também para o masculino que não foi potencializado no decorrer da história.

Se o Feminismo na sociedade, ou a teologia Feminista na religião, não se deixarem infiltrar por questões mesquinhas, certamente irão encontrar seu merecido lugar na contemporaneidade, pois há uma evidente abertura para isto. Basta caminharmos juntos para o reconhecido valor das diferenças que geram o desenvolvimento não só tecnológico e social, mas principalmente o progresso das idéias.

As idéias quando surgidas a partir do seu tempo, tendem a ser mais honestas com o mundo em questão, pois não vem subjugadas por coisas desnecessárias que impedem o progresso mais livre e progressivo.

Na teologia não é diferente, sendo que ela tem essa necessidade de ser contextual, já que “aquela que pretende ser universal e livre de seu contexto, simplesmente é uma teologia preconceituosa que não pode ver a própria contextualidade” (GONZÁLEZ. 2009, p. 72). A teologia feminista deve ser uma agregadora de valores femininos no seu contexto teológico local, quando este carece de base ou falha na leitura cosmológica.

Que a pós-modernidade, a globalização e os direitos humanos venham a fazer diferença também na teologia contemporânea ao perceber que se centrando na pessoa de Jesus Cristo ela encontra o modelo de ser humano que trás consigo a igualdade na relação da criatura com o seu Criador e também da relação justa e honesta entre todos na totalidade da criação.
Que Deus abençoe as mulheres, os homens, os animais, as plantas e até o menor microorganismo vivo, amém.


REFERÊNCIAS

BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
COLOMBO, Olírio Plínio. Pistas para filosofar – temas de antropologia. Porto Alegre: Evangraf, 1997.
FISHER, Helen. Sexo milenar. Reflexões para o futuro – Veja 25 anos. São Paulo: Abril, 1993.
GEABRA, Ivone. Teologia Feminista: uma expressão da contracultura na religião. Filosofia Ciência e Vida. São Paulo: Escala, ano II, Nº 17.
GONZÁLEZ, Justo. Breve dicionário de teologia. São Paulo: Hagnos, 2009.
MEDEIROS, Diana; PEREIRA, Rosilene. Luta contra a opressão. Filosofia Ciência e Vida. São Paulo: Escala, ano I, Nº 02.
ROCHA, Alessandro. Espírito Santo – aspectos de uma pneumatologia solidária à condição humana. São Paulo: Vida, 2008.
RÖSEL, Martin. Panorama do Antigo Testamento, história – contexto – teologia. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2009.
STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003.
WILLIAMSON, Marianne. O valor da mulher. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
ZABATIERO, Júlio. Fundamentos da teologia prática. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

3 comentários:

  1. muito bom! parabens Diego! tambem gostei de um blog nos recomendados, o da "Marcha Pele Ética Evangélica Brasileira, O $how Tem Que Parar", muito bom saber que esta surgindo grupos de pessoas não manipulaveis ligadas às igrejas, e que estão lutando pela mudança e pela ética.

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  2. Caro Diego Marcell... Deus ama muito as mulheres, mas elas tem um papel dentro da igreja de Deus diferenciado dos homens. Isso não é nenhum problema até porque Deus Pai, Jesus e o Espírito Santo tem papeis diferentes (hierarquia clara) na história da salvação, mas nem por isso um deixa ser menos importante do que outro.

    Medite nos textos a seguir:

    As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.
    E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.
    Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós?
    Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor.
    1 Coríntios 14:34-37

    Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem.
    Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem.
    Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos.
    Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor.
    Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus.
    1 Coríntios 11:8-12

    E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea.
    Então o SENHOR Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar;
    E da costela que o SENHOR Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão.
    E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada.
    Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.
    Gênesis 2:20-24

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  3. Esse é o problema de atribuir fala humana a Deus.
    Transformam o Todo Poderoso num deus muito pequenino ao achar isso das mulheres e é uma pena as próprias mulheres se submeterem a isso achando isso correto.

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