sexta-feira, 24 de agosto de 2012

E-reader vs. livro impresso


Diante da polêmica gerada no maior mercado de livros do mundo, EUA, onde gigantescas livrarias fecharam suas portas devido à impossibilidade de concorrerem com o livro digital, surge a dúvida: quais são as vantagens e desvantagens da nova mídia?
a) Portabilidade: sem dúvida, esta vantagem é muito clara e não merece extensão de comentários;
b) Disponibilidade de informações: hoje, qualquer tablet pesando menos de 200 gramas tem capacidade de armazenar mais títulos que a maior biblioteca do mundo, contando com a indexação das informações num formato muito superior ao das bibliotecas, onde somente a bibliotecária sabia onde o livro estava e quais as obras que abordavam determinado tema;
c) Segurança do arquivo: custo menor para aquisição de pacotes de livros em oferta, porém não havendo garantia de poder reinstalá-los em caso de perda de dados; ou seja, você vai ter que pagar de novo;
d) Impacto ecológico menor: opa! Aí chegamos em um ponto muito complicado e que vamos discutir abaixo. O livro de papel é muito menos poluente e impacta menos o meio ambiente que os livros digitais. Sim! É uma verdade.
Paisagens devastadas e poluídas
O livro em si não é tão poluente, mas sim, os produtos químicos que são usados na fabricação do papel. A madeira usada para a produção de papel não tem nada a ver com florestas a serem preservadas, visto que estas são de fibras curtas e não servem para papel, que precisa de fibras longas (basicamente pinus e eucalyptus). Sabemos que estas árvores são reflorestadas, apresentando um risco mínimo para o meio ambiente e sendo possível manter com facilidade a sustentabilidade ecológica.
tablet é uma peça maravilhosa da engenharia moderna, mas é tão poluidor quanto qualquer computador (levando em conta que já tive 14 deles na minha vida). Muitos deles, após alguns anos vão parar na vala do lixo comum, gerando acúmulo de substancias tóxicas; remessas gigantescas são exportadas para a China, onde mulheres e crianças em condições sub-humanas de trabalho fazem o garimpo dos materiais nobres para queimar o resto.
Temos também uma quantidade sem fim de elementos químicos altamente poluentes que serão despejados no meio ambiente sem o menor critério. Sem contar com a contaminação das mineradoras, que tornam paisagens totalmente devastadas e poluídas, quase sempre em países do terceiro mundo, além de oferecerem situações degradantes aos empregados.
“Mero consumismo”
Para se construir um único computador, são utilizados cerca de 1.800 quilos de materiais dos mais diversos tipos, sendo que desse total, mil e quinhentos litros são de água, duzentos e quarenta de combustíveis fósseis e vinte e dois de outros produtos químicos. Ou seja, um tablet, infinitamente menor e com recursos tecnológicos de ponta, gasta mais recursos naturais do que construir uma motocicleta!
Produtos ecologicamente corretos não são os que estamos consumindo, visto que o alto custo inviabiliza a concorrência em um mercado onde o preço é cada vez menor. Se você tivesse que decidir entre comprar um aparelho menos agressivo ao meio ambiente por 3 mil reais ou um outro com materiais inferiores, por 500 reais a menos, nem perderia tempo em pensar. Aliás, esse não é um debate que a indústria da informática coloca em pauta, tornando público somente o que é importante para eles.
Proteger as árvores é uma questão puramente sentimental, sem o menor sentido ecológico, pois elas são um recurso renovável. O que devemos proteger são as florestas e as pessoas que habitam nosso planeta. Por isso, mesmo usando meu notebook utilizo as palavras de Philip Roth de que tudo não passa de “mero consumismo”, sendo que chegou para ficar entre nós. Aliás, qual será a próxima novidade emtablets? Daqui a seis meses iremos aposentar o nosso e partir para outro com melhor imagem, menor consumo e mais recursos...
Jobs e Macunaíma
Qual é a vantagem de ter todas as informações na mão sem pesquisar, sem criar caminhos lógicos no cérebro? Sem as sinapses geradas pelo raciocínio lógico, podemos contar com a involução do ser humano; a acomodação vai nos forçar a percorrer o caminho inverso ao que percorremos na história do animal humano. O engenho pode chegar a ser deixado de lado, visto que os programas computacionais vão resolver todos nossos problemas; o conhecimento vai ser substituído pela habilidade num jogo similar ao de um vídeo game. A criação artística e sua contemplação pode se perder em um maremoto de imagens, onde tudo parece igual, mera sequência de bytes.
Podem os meios magnéticos preservar a cultura? Se levarmos em conta que os vencedores sempre destruíram a cultura da civilização vencida e que 10.000 anos de tradições e conhecimentos foram enterrados em guerras, não resta dúvida de que não vai ter byte sobre byte daqui a algumas gerações. O crescimento exponencial da quantidade de informações e a necessidade de backups ainda maiores dá a certeza de que muita coisa vai se perder e que iremos sofrer a cada dia da mesma forma que muitos sofreram com a queimada de Alexandria (biblioteca).
Nossa cultura é de primeira linha? Depende do ponto de vista. Tenha em conta que o herói hoje é Steve Jobs, um marqueteiro inigualável, previsor do futuro com qualidade. Mas não foi mais que isso. Eu acho que prefiro Macunaíma, última linha da vida, mas muito humano e nacional. Não se fazem mais heróis como antigamente.
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[Alejandro Francisco Rubio é livreiro há mais de 40 anos e tem um sebo em Curitiba]

Texto publicado no Observatorio da Imprensa

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